Tempo de leitura Postado em 17 de fevereiro de 2022Atualizado em 17 de janeiro de 2023
Aos domingos, o potencial de ocupação do espaço urbano se eleva e as ruas ficam a dispor das pessoas, que são a força principal do movimento que faz uso da cidade. O dia oferece essa possibilidade por ser atípico e pelo fato de, recorrentemente, os centros das cidades serem multifuncionais. Ou seja, aos domingos a região central deixa de ser estruturada essencialmente para produção econômica e adquire também a característica de espaço de produção cultural. Isso confere um poder simbólico às pessoas e oferece a possibilidade de conhecer e explorar cada pedacinho da região e suas várias opções de programação.
Marcada pela ideia de transição (de pessoas e carros) nos dias de semana, aos domingos o Centro transforma-se em um lugar onde as pessoas experimentam a cidade de uma forma diferente. Sejam vindas de outros bairros ou cidades, sejam moradores do Centro, o contato com os espaços urbanos — principalmente os públicos — se dá de forma menos efêmera: as pessoas estão ali para desfrutar de um tempo mais contínuo. Quando a maneira de se relacionar com a cidade se modifica, mudam também as formas de interações entre as pessoas, que, consequentemente, transformam o espaço e a imagem da cidade.
O cenário transformado é ponto de encontro das diferenças e diversidades, de movimentos e manifestações político-culturais que lutam por diversas causas. Espaços públicos, especialmente aos domingos, são pontos de reunião daqueles que vão para a rua em busca de uma cidade mais viva e orgânica. São ocupações espontâneas, que movimentam o centro da cidade, permitem sua apropriação e ressignificação, por meio de eventos, encontros, festas, piqueniques e afins.
Domingo no Centro é um recorte bem claro de que a cidade que queremos tem lugar para as pessoas, é feita para e pelas pessoas, personagens e histórias que são escritas dia a dia. O centro permite-se ser usado, sem exigir a permanência e também sem deixar de ter espaços de referência, de duração, fato que cria uma identidade entre a cidade e o cidadão. Uma vez que essa identidade é criada, a cidade deixa de ser uma imposição e passa a compor a vivência social de cada um de nós, afinal, vemos ali inúmeras possibilidades de encontros, mudanças e representações.
As intervenções artísticas e culturais são instrumentos de resistência contra um modelo insensível de cidade. Sair de casa, ocupar e deixar marcas é um ato político transformador, que permite ajustes e adaptações na organização espacial e humaniza o espaço urbano. De domingo a domingo: a cidade é da gente.